Este trecho foi inspirado numa comparação entre arte e esporte feita por Sartre. Para este filósofo e escritor, “O esporte, com efeito, é livre transformação de um meio mundo em elemento de sustentação da ação. Por isso, tal como a arte, o esporte é criador. O meio pode ser um campo de neve, um declive alpino: vê-lo já consiste em possuí-lo. Em si mesmo já é captado pela visão como símbolo do ser. Representa a exterioridade pura, a espacialidade radical; sua indiferenciação, sua monotonia e sua brancura manifestam a absoluta nudez da substância; é o Em-si que não passa de Em-si, o ser do fenômeno que de súbito se manifesta à parte de todo fenômeno. (...) o que almejo então é precisamente que este Em-si esteja comigo em uma relação de emanação, sem deixar de ser Em-si. (...) o objetivo é “fazer algo com esta neve”, ou seja, impor a ela uma forma que adere tão profundamente à matéria que esta parece existir a bem daquela. (...) O sentido do esqui não é somente o de me permitir deslocamentos rápidos e a aquisição de uma habilidade técnica, nem o de possibilitar jogar, aumentado ao meu capricho a velocidade ou as dificuldades do percurso; é também o de me permitir possuir este campo de neve. Agora; faço algo com ele. Significa que, pela minha própria atividade de esquiar, modifico sua matéria e seu sentido.” (SARTRE, 1997, pp. 711-712).